sábado, 3 de dezembro de 2011

Coroação da Rainha e do Rei do Maracatu Raízes de Pai Adão - Dia 6 (terça) de Dez às 19h.

Coroação da Rainha do Maracatu Raízes de Pai Adão

No dia 6 de dezembro de 2011 a enfermeira particular e cuidadora de idosos, Lígia Rosalina da Silva irá trocar as roupas brancas pela bela vestimenta e coroa de Rainha do Maracatu Nação Raízes de Pai Adão. A linhagem de Sabino Felipe da Costa mantém há mais de um século a tradição Nagô em Recife, tendo sua raízes presentes em praticamente todo o nordeste. A Família irá realizar a festa de coroação junto com toda a corte em frente à Igreja do Rosário dos Homens Pretos, no bairro de Santo Antônio, centro do Recife às 19 horas.

Rainha Nina (Oluaxó – O senhor de todas as vestes, seu nome em yorùbá que faz referência ao Orixá Xangô) foi iniciada no candomblé há 14 anos, por Maria José Felipe da Costa - Dona Zite de Oxum Ipandá, neta do histórico sacerdote nagô Pai Adão e filha de Malaquias Felipe da Costa Ojé Bií. Ainda menina, Lígia conta que, começou a interessar-se pela manifestação popular graças à influência de um tio, enquanto segurava a capa da rainha da Nação de maracatu Porto Rico e, jamais imaginou que um dia pudesse estar debaixo da coroa com a bênção dos Orixás e de todas outras Rainhas do maracatu pernambucano.


“Estou muito alegre e ansiosa para o dia da coroação. Já fui “Catirina”, baianinha e dama de passo... Mas ser rainha!? Nossa! Não sei nem explicar, é uma responsabilidade muito forte.” Conta a futura Rainha. O Maracatu, assim como outros folguedos, não é pura e simplesmente uma mera manifestação popular, acima de tudo trata-se de um ato religioso. A Rainha é a figura chave, a cabeça dos demais personagens que compõem a corte, sendo mais importante do que o próprio Rei.


Nina é filha de criação do mítico Rei Eudes Chagas Fundador do Maracatu Porto Rico do Oriente, o único que ganhou uma espada de ouro da Catarina Real. “Há 10 anos atrás os Orixás me apontaram no terreiro como a futura rainha do Maracatu. Quase não acreditei.” Lembra.

Enquanto isso seus familiares se dividem na confecção das vestes reais, coroa, capa, vestido etc. tudo com muito carinho e dedicação. A cada prova a deixa ainda mais próxima da responsabilidade que tem pela frente, “Depois de se vestir, uma força muito boa toma conta da gente, tudo fica diferente”. A preparação espiritual também é imprescindível para que tudo corra bem na terça feira dia 6, dois ou três dias antes as obrigações precisam ser entregues aos Orixás, Eguns e Esás (ancestrais ilustres na tradição do candomblé), que por sua bênção afim de que tudo saia nos conformes.

O Maracatu Nação Raízes de Pai Adão é de tradição Nagô e têm como foco religioso o culto aos ancestrais, pessoas que viveram aqui na terra e foram grandes líderes para o povo negro, “Malunguinho é um dos eguns (na Jurema) mais cultuados em Pernambuco, foi um líder político assim como Zumbi dos Palmares, a diferença é que ele conseguiu permanecer vivo até hoje, nos terreiros!” assim como também os famosos Esás Opeatoná (Felipe Sabino da Costa - Pai Adão) e seu filho Ojé Bií (Malaquias Felipe da Costa), que são eguns de grande importância na tradição religiosa nagô do Estado e, respectivamente bisavô e avô sanguíneos da família do Maracatu.

O Baque do Raízes de Pai Adão conta com aproximadamente 70 batuqueiros, sendo a sua maioria do Alto do Pascoal e Água Fria. Liderados por Mestre Leandro, antigo batuqueiro do Leão Coroado, Estrela Brilhante e Indiano. O jovem mestre é parente em terceiro grau da Rainha Madalena e do Grande Mestre Luis de França do maracatu Leão Coroado, defensor da tradição e avesso ás inovações que andam descaracterizando muitas Nações.

O Raízes de Pai Adão acumula uma série de participações e prêmios de vários carnavais, isso sem falar no projeto Nação Cultural do governo do Estado, que se apresentou em Nazaré da Mata, Petrolina e Floresta, e, o Projeto “Na onda do Raízes” desenvolvido junto com crianças de várias comunidades, realizando oficinas de Maracatu, Coco, Afoxé, Ciranda e iniciação a Ogan Alabê (ritmos Nagô pernambucano). Vencedor também do Prêmio Cultura Viva do MINC, pratica visitas a museus e outras agremiações, e claro, atividades recreativas, ainda mantêm uma escolinha de futebol com quase 90 crianças e adolescentes da comunidade de Água Fria e Bomba do Hemetério.

Assim como outros grupos de maracatu, o Raízes de Pai Adão mostra-se como um agente transformador da sociedade através da arte, da cultura popular e da religiosidade, ensinando a jovens e crianças as suas origens, o respeito ao diferente, o respeito ao próximo, a desconstrução do racismo, a auto-afirmação e o orgulho de ter a cultura negra como sua.


Com apoio do Quilombo Cultural Malunguinho e do Ilé Iyemojá Ògúnté, o evento será realizado com a presença marcante do sacerdote Paulo Braz (Ifá Toogún), que é o mestre que melhor fala a língua yorùbá em Pernambuco. Será um momento inesquecível.

Serviço

Coroação da Rainha e do Rei do Maracatu Raízes de Pai Adão
Dia: 6 de Dezembro de 2011
Local: Em frente a Igraj do rosário dos Homens Pretos do Recife - Bairro dee Santo Antônio (práximo a Pracinha do Diário)
Hora: 19h.
Com ritual nagô para os Eguns e Orixás
Grátis

Alexandre L'Omi L'Odò e João Monteiro
Produção do evento
alexandrelomilodo@gmail.com

sábado, 8 de outubro de 2011

Música Malunguinho do Grupo Bojo da Macaíba


Malunguinho

Música Malunguinho
Grupo Bojo da Macaíba

Com muito carinho disponibilizamos aqui no nosso blog o lindo coco feito em homenágem ao Mestre Malunguinho, nosso patrono na Jurema. O Grupo Bojo da Macaíba lançou essa música no VI Kipupa Malunguinho e teve presente para abençoar seu pessoal o próprio Mestre. Com muita fumaça agradecemos ao Grupo pelo belo trabalho em prol da preservação e reconhecimento da memória de nossas referências históricas e religiosas. Salve.

Clik na cetinha lá ensima para houvir a música!!

Visitem o site do grupo: www.myspace.com/bojodamacaiba


Alexandre L'Omi L'Odò.
Coordenação Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Homenagem ao VI Kipupa Malunguinho da Escola de Umbanda Pena Branca de SP


Homenagem ao VI Kipupa Malunguinho da Escola de Umbanda Pena Branca de SP

O Quilombo Cultural Malunguinho dá obrigado ao irmão Ronaldo de Almeida, umbandista de São Paulo que veio de lá conhecer o Kipupa e registrar o evento para fazer um documentário. Seja sempre bem vindo irmão, pois é a corrente de quem tem fé que fortalece a tradição da Jurema Sagrada. Salve.

Aguardamos as fotos e o filme. E tome-lhe fumaça!!

Sobô Nirê!!

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Com Ação Afirmativa é possível mudar!



Mestre Galo Preto e aluna na Escola Mariano Teixeira



A Escola Estadual Mariano Teixeira surge em pleno o governo da ditadura militar numa comunidade construída especificamente para funcionários públicos, a Vila Cardeal Augusto Álvares e Silva desenvolveu-se a margem das tradições culturais da cidade, na década de 70 o único espaço de cultura era a famosa Praça de Sena, localizada no caminho de quem vai a Vila das Lavadeiras, neste espaço um morador conhecido por Sr. Sena no ciclo momesco, manteve um tradicional desfile carnavalesco, onde algumas das Agremiações que visitavam a Vila das lavadeiras iam desfilar seus brilhos e ritmos lá, neste mesmo espaço os alunos da escola Mariano Teixeira faziam aulas de Educação Física, isto até pouco tempo atrás.


No ciclo junino existiam várias Palhoças organizadas por moradores de diversas ruas da Vila sempre com o forró tradicional e enfim no ciclo natalino a Praça de Sena era o endereço, Missa do Galo e Parquinho de diversões afora os ciclos culturais existiam outros momentos saudosos como as novenas do mês de maio e a tradicional procissão de Nossa Senhora de Fátima em outubro que passava de casa em casa durante todo esse mês e finalmente o único Terreiro da comunidade o de Dona Zefinha de Oyá que cheguei assistir parte de uma Festa de Ogum em minha adolescência, hoje extinto.


A comunidade nunca teve envolvimento nas lutas populares, tradicionalmente reduto dos seguidores do período militar e “eleitores da direita”, a partir das eleições do ex-presidente Lula e eleição do Prefeito João Paulo a comunidade passou a tomar um novo posicionamento frente as gestões públicas, contudo o único estabelecimento de ensino do governo estadual na comunidade, a Escola Mariano Teixeira ficou a margem desse processo, considerada uma Escola de médio porte, possui uma estrutura de dar inveja a muitas escolas públicas, mas não consegue sequer apoiar aos poucos professores que dedicam-se verdadeiramente a melhorar a realidade da instituição e da comunidade.


Hoje muitos jovens estão mergulhados nas drogas e na prostituição as relações com os professores a cada dia ficam mais difíceis e a gestora que se mantêm no poder há mais de 10 anos se coloca a margem dos problemas principalmente quando se trata das relações comunidade-Escola, nenhum projeto decente de cultura adentra ao estabelecimento e muitas tentativas dos professores resistentes são inviabilizadas, até mesmo o Grêmio Estudantil é mantido sobre seu extremo controle, chega a ser vergonhoso o comportamento dessa gestora, que vai totalmente de encontro ao que as políticas da atual gestão estadual propõem.


Sabemos que essa situação não é fato isolado e grande parte das Escolas públicas sofre com
esse problema, porém sabemos que as práticas esportivas e culturais são desde longe fortes
aliados para transformar-mos a realidade de milhares de jovens que por falta da presença ativa e importante do estado estão condenados ao trafico e prostituição. Acreditamos nessa transformação quando pessoas competentes e realmente comprometidas estiverem à frente dessas instituições educacionais.


Na tarde de hoje dia 14 de setembro de 2011, as Professoras Célia e Suely deram o exemplo que implementar é possível, organizaram as comemorações da Semana da Vivência e Prática da Cultura Afro Pernambucana, dentro da lei n° 13.298/07 (Lei Malunguinho), que tem objetivo de fomentar o diálogo entre sociedade civil, cultura de tradição e escolas e de celebrar a memória do líder negro Malunguinho.


Através de uma homenagem ao Mestre Galo Preto, protagonizada pelos jovens estudantes, observamos um real reconhecimento e entendimento do valor do mestre resultado das informações passadas pela Professora Célia Cabral com a coordenação pedagógica da Professora Sueli Duarte. Um exemplo a ser seguido e reconhecido com dignidade pela Secretaria Estadual de Educação.


João Monteiro
Historiador, Especialista em Preservação de Acervo, Ativista Social, Coordenação do Quilombo Cultural Malunguinho e morador há 43 anos da Vila Cardeal e Silva.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

VI Kipupa Malunguinho Por que "A Jurema Merece Respeito"!

Clique na imagem para ver grande. Arte: Amauri Cunha.

VI Kipupa Malunguinho
Por que "A Jurema Merece Respeito"!

O QCM – Quilombo Cultural Malunguinho, apresenta a III Semana Estadual da Vivência e Prática da Cultura Afro Indígena Pernambucana, Lei Malunguinho n° 13.298/07, que tem como objetivo, consolidar o diálogo entre as diversas religiões de matrizes afro indígenas com a sociedade civil e a cultura de tradição, escolas e academias entre outros e outras, com o intuito de celebrar a memória do líder negro e divindade do culto da Jurema Sagrada, Malunguinho, personagem da história do Brasil, assassinado na provável data de 18 de setembro de 1835, no Distrito de Maricota, hoje Município de Abreu e Lima/PE.

Objetivamos garantir a expressão, inclusão e a difusão da diversidade presente nas atividades educacionais e de formação, possibilitando a articulação entre pessoas e grupos, além da participação plural e intensa dos povos de Terreiro nos processos de discussão política, social, cultural e teológica, garantindo a troca de saberes com a função de contribuir para o fim do racismo, da intolerância religiosa e desmarginalizar a nossa história negra e indígena (Lei 11.645/08).

“Na mata tem um caboclo
Todo vestido de pena
Esse caboclo é Malunguinho
Ele é Rei lá da Jurema”.
(Toada do culto da Jurema Sagrada).

Serviço
Dia - 25/09 (domingo) VI Kipupa Malunguinho, Coco na Mata do Catucá (Encontro Nacional de Juremeiros e Juremeiras).

Na mesma data: Lançamento do Prêmio “Mourão que não bambeia” – Homenageados Vivos: Mãe Vanda de Seu Zé Filintra (50 anos de Jurema). Mortos: Juremeiro Antônio do Monte e Seu João Folha. No Kipupa Malunguinho.

Horário: Das 07 às 18h.

Programação:
Com a roda de coco: Mestre Galo Preto (coordenando o coco), Mestre Zé de Teté (Limoeiro/PE), Grupo Bongar, Adiel Luna, Pandeiro do Mestre e Bojo da Macaíba.

Ônibus: com saída de 7h. Contribuição: R$: 5,00.

Recomendação: Ir com roupa adequada para ritual de Jurema e levar suas “Gaitas”.
--> Levar almoço ou comprar no local.

COMO CHEGAR NO LOCAL DO EVENTO? É fácil: Todos que forem de carro, moto ou a pé (se for louco kkkk) devem encontrar os ônibus as h em frente a Prefeitura de Abreu e Lima e seguir o comboio ao local do evento. Endereço: Estrada de Pitanga II, área 04 - Sítio de Juarêz. É só perguntar no meio do mundo que o povo indica!! Boa sorte na aventura!!

LOCAIS DAS SAÍDAS DOS ÔNIBUS: Carmo do Recife, Nascedouro de Peixinhos, Limoeiro, João Pessoa, Natal, Jordão Baixo, Prado, Goiana etc. Todos saem de 07h em ponto!


Para Inscrição: Nome Completo, RG, Nome da Instituição ou Terreiro que representa, Fones e email. Enviar tudo para o email abaixo.

Contatos:

Coordenação:
81. 8887-1496 / 9428-4898 / 8649-8234
quilombo.cultural.malunguinho@gmail.com

domingo, 7 de agosto de 2011

Re-consagração de Malunguinho - Uma transmissão familiar de ancestralidade e ciência na Jurema

Malunguinho. Festa da Lavadeira 2011. Foto de Thiago Angelin Bianchetti.

Re-consagração de Malunguinho
Uma transmissão familiar de ancestralidade e ciência na Jurema

*Alexandre L’Omi L’Odò

Cheguei à minha casa pensando em registrar em texto a vivência que tive com a Jurema. Vi coisas bonitas e senti coisas importantes... Este é um texto de registro histórico.

Hoje, dia 06 de agosto de 2011, foi a data da re-consagração de Malunguinho, um fato histórico de sucessão hierárquica na Jurema. Todo acontecido religioso foi possível por causa do juremeiro João Folha, já renascido para a espiritualidade. Um dos mais tradicionais e antigos juremeiros da região do Jordão Baixo no Recife/PE, falecido no dia 15 de maio 2011 de complicações cardíacas, deixando o terreiro “Mensageiros da Fé”, casa regida pela cabocla Iracema, com mais de 43 anos de funcionamento, sendo o mais antigo terreiro de Jurema e culto nagô deste bairro. O terreiro também é regido pela divindade Malunguinho, que tem um espaço especial no terreno, sendo o único que “mora só”, com culto próprio e específico. Malunguinho foi o regente de Seu João Folha, que era filho de Xangô com Oxum, mas tinha no culto da Jurema sua maior sustentação e fé.

O templo se estabeleceu na localidade que há 70 anos era conhecida como Sítio das Cacimbas e, depois se tornou popular com o nome de “Bica de Seu João Folha”, terras da família de Dona Dora, que há quatro gerações se mantém residindo.

Dona Dora. Mestra Juremeira e Iyalorixá. Foto Diego Nigro.

O terreiro foi fundado por Dona Dora, “filha de santo” do falecido Genival Francisco de Araújo, da Rua Orubatanga, no Córrego da Gameleira/Recife, e depois de Seu Luiz da Guia (Luiz José de Santana), que hoje se encontra com 98 anos de idade. E Seu João Folha, em 17 de abril de 1968 no mesmo local onde hoje está estabelecido. Mas, Dona Dora já tinha culto pelo menos há cinco anos antes em um local no mesmo Sítio de sua família, próximo a atual localidade.

Os motivos da abertura da casa foram os problemas de saúde que abateram a sacerdotisa, a pressionando a fundar o local onde suas divindades e entidades iriam ter morada definitiva. Oyá Egunitá, seu “Orixá de cabeça”, o Mestre Zé Malandro, Galo Preto, Mestra Georgina, Seu Tranca Rua das Almas entre outras e outros, fizeram da Rua Fernandes Belo, n° 611, o caminho para ajudar os necessitados, trazendo a cura e a iniciação, dando caminho e orientação, ajudando a preservar a memória dos índios e negros que deixaram essa missão para ela e tantos outros.

Foram 55 anos de casados. Tiveram 9 filhos, mais de 16 netos e 7 bisnetos. Dentre estes e estas está Rosemary de Fátima, conhecida como Mary, filha de Oxum e herdeira do axé de Malunguinho. Casada com filhos, ela foi a escolhida pela Jurema para perpetuar a ciência de seu pai, que tinha em Malunguinho uma fé incondicional, mesmo não o recebendo em seu corpo com manifestações espirituais, ele cultuava Malunguinho com tanto afinco e adoração que as pessoas até o questionavam brincando: “o senhor fala mais em Malunguinho que em Deus”... Dona Dora ainda diz: “o Deus dele era Malunguinho, pois ele tinha tanto amor por ele que tenho certeza que ele está feliz com sua filha o ter herdado, inclusive manifestando-se, trazendo sua ciência para todos verem”.

O fato da transmissão familiar da ciência é uma circunstância não muito comum dentro dos terreiros de Jurema. O que assistimos frequentemente é quando um juremeiro ou juremeira antigo ou antiga morre, seus objetos rituais e sua história são jogados fora pelos seus filhos e netos e sacerdotes responsáveis. Os motivos desta atrocidade cultural são os mais diversos como a responsabilidade em ficar cultuando algo que não é seu, não ter ninguém da família pertencente a religião, até mesmo o desrespeito completo com a ancestralidade e a falta de conhecimento sobre os procedimentos corretos dos rituais. Isso vem fazendo grande parte da história da Jurema se apagar e cair no completo ostracismo. Mas com o caso de Seu João Folha foi diferente, sua história se manteve viva na família com toda legitimidade e consciência.

Mary. Filha carnal de Dona Dora e herdeira da ciência de Seu João Folha. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Desde pequena Mary vinha se “manifestando” com Malunguinho, e Dona Dora já pressentia que este iria ficar na casa, para segurar o axé do terreiro, através de sua filha que iria ficar responsável pelos assentamentos de seu pai. Fato este que, todos os filhos e filhas e freqüentadores do terreiro celebraram com muita alegria, pois Malunguinho se confirmou e pronunciou publicamente dirigindo-se ao sacerdote Sandro de Jucá, responsável pelas suas cerimônias e culto e a Dona Dora, estar “muito satisfeito com as oferendas ofertadas a ele”. Ele dançou, brincou, celebrou, cantou, comeu, bebeu e fumou, saudou seus protegidos e agradeceu. E de fato, a força de Malunguinho se fez presente no barracão. Todos sentiram a forte energia que emanou de dentro da casa onde ele mora. Frutas, bebidas, fumos, velas e animais compuseram suas oferendas. Assim se fez parte da re-consagração de Malunguinho, que agora passa a ser zelado por Mary. As armas e símbolos da divindade (preaca, estrela de seis pontas, volta de ave-maria, cipó de japecanga, cachimbo e sementes) foram repassadas pela antiga Juremeira Dona Rita de Malunguinho, que tem 74 anos de iniciada no culto à Jurema e 89 anos de idade. Ela, que é irmã de Jurema e de axé de Sandro de Jucá, também de Seu João Folha, sendo eles iniciados pelo falecido Grivaldo de Xangô, conhecido como Pai Brivaldo de Xangô, discípulo do Mestre Zé da Pinga, formalizaram um ato familiar do mesmo axé e ciência, firmando laços de consideração religiosa pelos irmãos mais velhos que tem o direito de repassar objetos sagrados aos mais novos.

Malunguinho "manifestado" em Mary. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

Mary, recebendo as armas de Malunguinho pela juremeira Dona Rita de Malunuginho. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

Confraternização. Mary e Dona Rita de Malunguinho. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

Mary firmando na Cidade de Malunguinho. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Como é de tradição das casas mais antigas de Jurema e Candomblé (Xangô) de Pernambuco cultuar Exú no mês de agosto, a Casa de Dona Dora não poderia deixar de realizar os rituais e liturgias de sempre, pois mesmo a Casa estando de luto pelo falecimento de Seu João, Malunguinho solicitou suas “abrigações” e permitiu que os rituais dos Trunqueiros/Exús fossem todos realizados, mesmo que sob a regra do silêncio dos Ilús (instrumentos sagrados de percussão), sendo permitido apenas o uso das macas e palmas de mão para dar o ritmo aos cânticos rituais.

Todo ritual foi regido pelo juremeiro e babalorixá Sandro de Jucá e pela iyalorixá e Mestra juremeira Dona Dora, que como sempre, deram o tom adequado aos ritos, trazendo informações/elucidações e boa energia. Foi feita a limpeza de agosto tradicional com as aves e velas e todos cantaram toadas de limpeza:

“É na Jurema, é na Jurema, to me limpando é na Jurema”...

Os cachimbos acesos, fumaçando os desejos, levando à Jurema os pensamentos, estiveram presentes todo o tempo nos rituais, com a variação do uso do fumo preto e do fumo mais suave.

Juremeiro Sandro de Jucá, abrindo os cânticos no quarto de Malunguinho. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

A fala de Sandro sobre a família de Dona Dora e as responsabilidades no terreiro com a continuidade das práticas após o falecimento de seu fundador, reuniu antes de iniciar as imolações todos dentro do salão da Jurema. A fala foi de fundamental importância para informar aos presentes e aos filhos Ricardo Gonçalves e Luiz Gonçalves e ao neto Luiz Carlos Jr. Que com a “ausência” de Seu João, as práticas tradicionais da casa não mudariam em nada. Todas as normas estruturadas por Seu João durante sua gestão no terreiro se manterão completamente, sendo sempre relembradas por Sandro e Dona Dora. Agora Seu João é um Esá (ancestral ilustre) no Balé - Ilé Ibó Akú (casa de adoração aos mortos) do terreiro, e de lá vigiará as atividades dentro da casa. Sandro ainda colocou que “a casa não é dele”, e que ele está ali apenas para dirigir os rituais e organizar as funções referentes a um babalorixá e juremeiro. Sandro, pediu para que os filhos carnais de Dora estivessem sempre presentes na casa para observar de perto o que acontecia e que eles dêem força a sua mãe, pois ela está sofrendo opressão de uma de suas filhas que é evangélica neopentecostal, que está tentando convertê-la para que ela feche o terreiro e venda o terreno para dividir o dinheiro entre os herdeiros. As investidas dessa filha têm perturbado Dona Dora demais. E isso compromete as praticas dela, pois dentro de sua própria casa ela esta sofrendo a intolerância religiosa e o preconceito. Os filhos se comprometeram em ajudar e concordaram com a conversa toda. Depois dessa reunião, os trabalhos começaram com muita animação, invocando os Trunqueiros, como Seu Tranca Rua, que foi o primeiro a receber as homenagens em seu mês.

Sandro de Jucá (ao centro de vermelho) discursando ao terreiro. Sentada Dona Dora, em pé seus dois filhos. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Neto Luiz Carlos Jr e filhos Ricardo Gonçalves e Luiz Gonçalves. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Os rituais seguiram tranquilamente, com muita participação dos presentes. Depois dos Trunqueiros, os rituais foram dedicados à Malunguinho, com a re-consagração de Mary e depois veio a vez das pombojiras, que animaram o salão com suas características sedutoras e dinâmicas. Contudo, a festa foi bonita de observar, mas faltava um dos responsáveis - o Seu Vira Mundo, também conhecido como Bate Porteira. Ele “desceu” em Sandro de Jucá próximo a meia noite e ai a festa foi completa... O coco tomou conta do salão, puxado pelo Seu Vira. Eu cantei, Seu Vira cantou, depois chegou o Seu Zé Malandro, Mestre da sacerdotisa, que também entoou cocos conhecidos. Seu Vira Mundo entoou um coco característico da espiritualidade de um trunqueiro de Jurema e deixou o salão a prestar atenção:

“Na minha Cidade existe três reinados encantados, um é feio, outro é bonito e o outro é mal-assombrado”...

Pai Lula de Ogodô, babalorixá responsável pelo axexê de seu João Folha também cantou e relembrou os antigos cocos cantados por seu pai carnal, nos tempos que o levava para “os cocos” de Recife adentro... O terreiro todo celebrou a vida junto aos mestres e pombojiras que estavam presentes no salão. A cena em si foi muito bonita, pois nela tinha uma harmonia e uma consciência muito clara de que o povo de terreiro encara a vida assim como encara a morte, e esta visão filosófica se traduziu com a pisada forte do coco, ritmo, cântico e dança do nordeste brasileiro e as palmas de mão com as respostas. Uma banda musical de maracás, abês, e um balde se fez no momento e pessoas que em sua vida cotidiana, como médicos, professores entre outros, não se relacionam com a liberação do corpo e da alegria interna de existir, se revelaram tocadores e dançarinos alegres, soltos e vibrando na energia da Jurema. Entidades e pessoas vivas, celebrando juntos à vida, em uma demonstração perfeita, contida de toda teoria antropológica da observação, fenomenologia, semiótica etc... Traduzida em uma frase: “A Jurema abala, e seus discípulos não tombam”.

Acordei no terreiro. Dormi no salão dos Orixás, local separado do salão da Jurema. Dona Dora não me deixou ir embora às 1h30min da manhã, forrando pra mim um colchão no chão com o Alá de Oyá, pano que cobre o Orixá em suas saídas de quarto no culto nagô em PE. Foi uma enorme satisfação, poder contar com o respeito, cuidado e confiança de uma sacerdotisa tão antiga como ela. Acordei às 7h, ao som de uma chata música evangélica, que saia do celular de Beto de Iyemojá, que só dorme escutando este tipo de música, pois diz que lhe dá sono e relaxa. Pode isso? Rsrs.

Tomei um cafezinho esperto feito no fogão à lenha com um pãozinho e queijo preparados pelas iyabás da casa e logo fui embora, pensando em escrever este texto, para registrar minha alegria em poder viver junto a pessoas tão especiais e religiosas como as que pude estar. Este foi o melhor presente antecipado de aniversário que pude me dar.

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*Alexandre L’Omi L’Odò - Graduando em História pela UNICAP, Egbomi de Oxun, Juremeiro e coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho.

Este texto foi construído com entrevistas consedidas por Dona Dora e Sandro de Jucá.

Dedico este texto à Seu João Folha e a Malunguinho, pelo axé que me banharam.


Alexandre L'Omi L'Odò
alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 24 de julho de 2011

Uma fala unificada da Jurema Sagrada é possível?

Mãe Terezinha Bulhões firmando Jurema aos pés da Cidade de Maria do Acaes. Alhandra/PB 2008. Foto de Mariana Lima.*


Uma fala unificada da Jurema Sagrada é possível?
Observações sobre a Jurema e os posicionamentos de seu povo no 5° Encontro Pernambucano de Mulheres de Terreiro

*Alexandre L'Omi L'Odò.

Ao participar do 5° Encontro Pernambucano de Mulheres de Terreiro, que aconteceu de 20 a 22 de julho de 2011 no Auditório do Ministério Público de PE, Centro Cultural Rossini Alves Couto, no centro do Recife, pude assistir pessoalmente a uma das falas mais arbitrárias sobre a Jurema que já pude assistir.

No último dia do evento (22/07), na mesa de encerramento que reuniu diversas representações dos segmentos das religiões de matrizes africanas e indígenas, estiveram personalidades como Mãe Nice de Oyá, da Casa Branca do Engenho Velho/BA, e a Makota Valdina/BA, que deram falas surpreendentes neste encerramento.

Com a falta de representatividades da Umbanda e da Jurema Sagrada na mesa, a coordenadora do evento, Vera Baroni, convidou as mulheres presentes, que fossem destes segmentos para tomar assento. Representando a Umbanda não foi ninguém infelizmente, e para representar a Jurema Sagrada foi a senhora Nice (Aurenice), que é cultuadora da Jurema.

Na fala desta última, pudemos assistir uma retórica das mais arbitrárias possíveis em relação à Jurema e aos seus conceitos teológicos. Mesmo eu sendo muito jovem de idade quanto de idade de iniciação, pude me deparar com uma fala que desconstrói de forma irresponsável um trabalho de mais de sete anos do Quilombo Cultural Malunguinho e dos juremeiros e juremeiras que durante este tempo puderam dar contribuições para o fortalecimento desta religião no cenário político e das discussões teológicas. Mesmo podendo ouvir falas como: "é importante ter falas que criam um contra ponto às já estabelecidas", ou "a fala dela foi diferente, e meio arrogante, mas foi boa", pude perceber que o povo da Jurema, está ainda longe de chegar a uma compreensão do que é de fato esta religião e sua importância no atual cenário das religiões de terreiro.

Sei que as fontes de pesquisa são poucas, e que os antigos Juremeiros e Juremeiras estão falecendo sem deixar os conhecimentos desta religião bem estruturados em seus discípulos, mas nada disso nos impede que possamos buscá-la na essência e podermos construir um entendimento coletivo bem construído no tocante a sua essência teológica e ética, também, à sua história. Estudar a Jurema se faz muito necessário hoje, pois precisamos entendê-la mais, registrá-la mais, para darmos novos rumos e salvaguardarmos o que restou dela.

Falas como "o juremeiro não usa ilú (instrumento para realizar os toques nos terreiros de Pernambuco)", ou que "o juremeiro tem que ter a fumaça circulando em sua cabeça", deixou a platéia de babalorixás e iyalorixás, juremeiros e juremeiras, umbandistas e convidados em polvorosa. Pude ouvir diversos comentários, como por exemplo, o que "ela é louca é?", "ela não sabe de nada...", “ela não é filha de quem ta dizendo", "a fala dela é muito agressiva" etc. Vi pessoas o tempo todo criticando e observando com atenção o que ali naquele momento acontecia... O que mais marcou essa situação toda, foi que ela foi convidada como representante da Jurema de Pernambuco, enquanto mulher. Isso me preocupou muito...

Será mesmo que todos os terreiros de Jurema estão errados em realizarem suas práticas como o fazem estes anos todos? Na fala da senhora Aurenice ficou claro que muitas destas práticas não são coisas de juremeiro ou juremeira. Tiro como exemplo a casa de Mãe Biliu que tem 105 anos de idade e mais de 90 anos de Jurema, que ainda trabalha (recebe em terra) com seu caboclo Manuel de Ororubá. Na casa dela, se toca Ilú na Jurema... Ela usa torso... E pratica a Jurema bem antes, muito tempo antes, de muitos de nós todos. Será que isso não quer dizer nada mesmo? Será que isso não é um indício de que a Jurema tem forma litúrgica? Acho bom refletirmos...

Outra coisa que pude também assistir foi a omissão ou passividade dos juremeiros e juremeiras da Paraíba, que estavam presentes em certa quantidade e não se pronunciaram em nada. Fiquei tentando entender os motivos, mas não pude achar nenhum satisfatório para mim. Pois jamais veria alguém falar de minha religião de forma errônea ou precipitada sem intervir, sobretudo para tentar construir algum entendimento válido às pessoas que ainda não conhecem o culto da Jurema como uma religião. Ainda para que estas pessoas não pudessem levar ou aprender conceitos e informações equivocadas, que não refletem uma realidade contemporânea.

Só não tomei uma atitude de intervenção naquele momento, mesmo tendo descido até a primeira fileira de cadeiras para pedir a fala, porque, respirei algumas vezes para não tornar daquele momento um burburinho com discussões severas sobre as concepções discutidas. Também, não o fiz porque após a fala da Makota Valdina, que de certa forma legitimou a fala da Aurenice, mesmo sem que esta legitimação fosse fundamentada nos conhecimentos sobre a Jurema e sua realidade, fala que ela mesma disse "estamos ainda conhecendo estas religiões e diversidade", tentei me acalmar e deixar em silêncio minhas indignações. Apenas por respeito às mais velhas e mais velhos presentes e ao equilíbrio (paz) do evento como um todo.

Mas, contudo, este ocorrido me deixou muito inquieto e me pôs a refletir sobre a Jurema como uma religião que está de fato perdida entre nós mesmos. Isso é uma infelicidade. Pois o que podemos conferir no dia a dia dessa batalha por fortalecimento e reconhecimento da Jurema como uma "Religião que Merece Respeito", é que o povo da Jurema está ainda em processo lento de discussão sobre suas temáticas todas. Estes mais de sete anos de trabalho do Quilombo Cultural Malunguinho, foram importantes para despertar estas discussões e conferir aos juremeiros e juremeiras uma perspectiva de construção fundamental para o caminhar nesta luta que ainda precisará de muitos anos para se equilibrar, no mínimo.

Olhar e observar é bom. Meus ensinamentos dentro da Jurema são estes: "o mundo só é ruim para quem não sabe esperar", e isso naquele momento me fez refletir e ficar apenas esperando... Olhando os outros e outras, vendo o quanto essa luta é importante para a dignificação de nossos ancestrais, que lá no passado, nas tribos indígenas e nas casas de Jurema construíram uma história de muita força e importância. Este é o tesouro, que devemos cuidar como se fosse um filho ou filha em nossos braços, sem vacilar e deixá-los cair.

Uma fala unificada e fortalecida do povo da Jurema Sagrada um dia será possível, espero. Mas para isso precisamos discutir sem deixar os egos e as "tradições" nos consumirem e nos cegarem.

E hoje, ao escrever estas linhas lembrei deste segmento de Jurema cantado para invocá-la:

"Cadê a força da Jurema, onde é que ela está? Ta no tronco da Jurema, ta na Cidade Real (...)".

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*Foto que registra um dos últimos momentos em que uma juremeira firma Jurema aos pés da Cidade (árvore de Jurema Preta onde foi firmada a ciência da Jurema de Maria do Acais) de Maria do Acaes em Alhandra na Paraíba. Este registro foi possível através da organização do 1° Encontro de Juremeiros em Alhandra - "Vamos Salvar o Acaes", organizado pelo Quilombo Cultural Malunguinho em 2008. Após este evento, este patrimônio do povo da Jurema foi destruído por tratores pelo dono atual das terras do Sítio do Acaes. Este fato foi um crime histórico à memoria e ao patrimônio material e imaterial da Jurema Sagrada.

*Alexandre L'Omi L'Odò - Juremeiro e Egbomi, estudante de História pela UNICAP.

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sábado, 25 de junho de 2011

Reflexão sobre A Marcha para Jesus.

O Professor Carlos Thomás vem dado ao longo dos ultimos 5 anos uma contribuição muito importante as causas LGBT e Afrodescendente em Pernambuco, seus textos nos leva a enxergar de outro angulo uma realidade que está de pano de fundo de muitas manifestações de preconceito e racismo:



Marcha para Jesus ou para matar?


A Marcha para Jesus nasceu em Londres, no ano de 1987, fundada pelo pastor Roger Forster, após a primeira outras tantas já aconteceram e vem acontecendo, inclusive aqui no Brasil, como foi o caso da 19ª ocorrida em São Paulo que atraiu aproximadamente 1 milhão de pessoas de vários credos cristãos.

Dentre os objetivos da Marcha está o de trazer as igrejas para a rua, porém a de São Paulo não teve só esse objetivo, pois entre outros estava o de pregar o ódio aos homossexuais, a crítica à decisão do STF do direito à união estável entre pessoas do mesmo sexo e o veto ao PL 122. Tudo isso promovido pelos lideres evangélicos, ou melhor, pseudo-evangélicos como Bispo Crivella, Pastor Malafaia e certamente com o aval do deputado Bolsonaro.


De acordo com meus cálculos se cada 1 pessoa da Marcha para Jesus incitada pelo discurso desses senhores resolvesse aderir à fala deles, teríamos 1 homossexual morto à pauladas, “lampadadas”, facadas ou tiros, resultando, assim , aproximadamente 1 milhão de homossexuais mortos. Tudo isso pelo simples fato do ódio pregado “em nome de Jesus”, justamente em nome do homem que foi crucificado e morto por ser oposição à opressão, às injustiças, às discriminações e à falta de amor ao próximo.


Uma contradição desses líderes à própria ideologia da doutrina do Cristo verdadeiro. O Brasil vive atualmente uma efervescência do Cristianismo com força maior no Protestantismo, isso tem atraído muita gente para as religiões evangélicas, o que deveria ser “uma bênção” (expressão usada pelos cristãos para se referir a coisas boas), mas que do meu ponto de vista não tem sido, isso porque as pregações e os discursos usados por alguns “servos do Senhor”, estão carregados de ódio, machismos, racismos, intolerâncias e homofobia; colocando em risco a paz e o amor tão pregados pelo nosso senhor Jesus Cristo, desse modo estão abandonando o verdadeiro Cristianismo que versa sobre o amor incondicional (ver episódio de Madalena e o apedrejamento assim como o do espinho da carne de Paulo), sobre o amor altruísta, sobre a caridade, e em oposição a isso reforçam violência.


Na Marcha para Jesus em São Paulo os líderes religiosos Malafaia e Crivella incitavam com seus discursos o povo à violência aos homossexuais, e quando se trata de povo, deve-se ter cuidado como se faz oposição a qualquer assunto, pois as conseqüências podem ser danosas.


O Cristianismo aqui no Brasil precisa ser repensado, re-avaliado, pois se isso não ocorrer, em pouco tempo seremos testemunhas de chacinas a homossexuais, a usuários de maconha, a povos de Religião de Matrizes Africana e Indígena e a toda pessoa que não comungue do mesmo pensamento pseudo-cristão, e tudo isso ocorrerá “em nome de Deus”, o que é um grande equivoco, pois o verdadeiro Cristo Jesus não é e nunca foi racista, homofóbico, machista e intolerante. Muita paz, muito axé.

Prof. Carlos Tomaz - carlinhostomaz@hotmail.com
Coordenação de formação da REDE AFRO LGBT
Ativista do MNU-PE
Membro do Forum Estadual de Educação Etnicorracial de PE.

sábado, 18 de junho de 2011

"Galo Preto, O Menestrel Do Coco" - Release Oficial do Filme

Release do Filme/Documentário
“Galo Preto, O Menestrel do Coco”.

Nascido em 1935, no hoje reconhecido Quilombo de Rainha Isabel no município de Bom Conselho de Papa Caças, agreste meridional de Pernambuco, cresceu o menino Galo Preto, que herdou de sua família toda tradição do coco sertanejo e brejeiro, também da poesia de repente e embolada. Típico cantador de coco, resguarda em si o traço genético da percussão e da criatividade virtuosa do repente, além da história dos seus antepassados, cantadores tradicionais.

O filme/documentário, “Galo Preto, o Menestrel do Coco”, 46’min., do cineasta e roteirista Wilson Freire, conta a história do senhor Tomaz Aquino Leão, Mestre Galo Preto, que é o último representante vivo e ativo da tradição do coco do Quilombo de Rainha Isabel e da tradição de sua família. Com roteiro e pesquisa surpreendentes, cheio de surpresas e informações preciosas, que remontam à história do ritmo musical conhecido como coco e da música popular no país, trazendo à luz, personagens incríveis de seu convívio, este documento audiovisual torna-se uma peça indispensável para o avanço do reconhecimento dos grandes mestres negros e índios das culturas tradicionais. Além de ser um elemento que garante a preservação da memória deste singular artista que fez do coco e da embolada, enfim, da música, sua vida. Aos 75 anos de idade, o Mestre Galo Preto, continua ativo e criativo, dando à cultura que pertence, a perspectiva de continuidade e, é acima de tudo, um patrimônio de todos os brasileiros, merecendo este reconhecimento.

O filme, ainda, revela segredos guardados há décadas e remonta uma linha do tempo do negro na mídia nacional, sobretudo na resistência do coco, como elemento de auto-estima e referência da música pernambucana para a construção de novos rumos no mercado musical das décadas de 1960 a 1990.
Este registro nos traz informações valiosas de pesquisa e das relações artísticas culturais entre os pernambucanos.

O Mestre Galo Preto aceitou realizar este filme para garantir a salvaguarda de sua história e tradição, que como missão de vida, pretende deixar para os mais novos, para que nunca morra esta cultura que ele mesmo diz ser “negra/indígena e pernambucana de seus ancestrais”.

Registrar, em audiovisual, parte desta história e oralidade é contribuir para que essa memória se mantenha viva e dinâmica, que ela possa dar luz a novos pensamentos, que ela possa contribuir para a perpetuação do coco.

Lançamento Oficial: 24 de Junho de 2011 – Nascedouro de Peixinhos às 19h.
Informações: 55 81 8887-1496 / alexandrelomilodo@gmail.com
Valor para compra: R$: 20


Ficha técnica do Filme/Documentário “Galo Preto, O
Menestrel do Coco”.

Roteiro e Direção: Wilson Freire
Pesquisa, produção e pós-produção: Alexandre L’Omi L’Odò
Produção: Fernando Lucas
Produção Executiva: Hamilton Costa Filho
Fotografia: Hamilton Costa Filho, Marcelo Pedroso, Mariano Pickman,
Mariano Maestre, Daniel Aragão e Léo
Assistentes: Andrenalina, Rafael Cabral e Pá
Som Direto: Rafael Travassos, Philipe Cabeça e Nicolau
Edição e Montagem: Alessandra Patrícia e Herivelton Santos
Finalização: Pingo
Realização: Cabra Quente Filmes, Bode Espiatório Filmes e Quilombo Cultural
Malunguinho.
Apoio: Candeeiro Filmes, Alexandre L’Omi L’Odò Produções e TRANSCOL.

Prefeitura da Cidade do Recife: Um projeto aprovado pelo SIC (Sistema de
Incentivo à Cultura) do Recife 2008.

Fotos: Roberta Guimarães.


Alexandre L'Omi L'Odò
Produção.
alexandrelomilodo@gmail.com

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Grupo de Teatro de Fantoche Baobá comemorando o dia dessa grande árvore


O Baobá, testemunha do nosso tempo!

Um dos grandes legados da África ao mundo é sem duvida o Baobá Andasonia digitata como é conhecido no meio cientifico, é uma das árvores que tem o maior tempo de vida na terra, um referencial simbólico da longevidade e, sobretudo de ancestralidade, algumas espécies chegam a ter mais de 3.000 mil anos, testemunharam em seu “silêncio” todo processo histórico do ser humano, tem sua origem em Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Zimbábue, Botsuana e Senegal onde é o principal símbolo deste pais, provavelmente chegou ao Brasil juntamente com a entrada de milhões de negros e negras que aqui chegaram como mão de obra escrava, O Conde Mauricio de Nassau plantou alguns exemplares em seu jardim Botânico, há registro que o Dr. Manuel Arruda da Câmara escreveu ao Príncipe regente em 1810 aconselhando a introdução da árvore no Brasil, em 1874 Francisco Augusto da Costa descreve o Baobá existente na Praça da República em matéria do Diário de Pernambuco no dia 12 de maio.

Pernambuco hoje é o território de maior concentração de Baobás do mundo depois da África, constatação feita por Dr. John Rashford do College of Charleston da Califórnia - EUA e para nós afros descendentes representa a manutenção da nossa memória histórica e cultural.
Em todos os cantos do Brasil teve a presença de negros e negros, os registros seja na dança, culinária, tecnologia, linguagem, expressões da cultura popular, uma verdadeira simbiose cultural foi estruturada pelas várias etnias que aqui chegaram e todas sem exceção têm no Baobá algum referencial simbólico seja ele cultural, religioso ou étnico.

Era nas sombras dos imensos Baobás que a história das etnias eram repassadas pelos “Griôs” ou Kibandas, anciãos responsáveis pela manutenção da história local, um verdadeiro arquivo vivo e o grande Baobá era a testemunha do tempo.

Plantar um Baobá significa fortalecer a luta pela reparação dos povos afros descendentes, que durante muitos anos foram excluídos de qualquer implementação de políticas públicas direcionadas a valorização e reconhecimento da cultura afro-brasileira, como plantam os pesquisadores Professor Osvaldo Martins Engenheiro-Agronômo da Universidade Federal Rural de PE e membro da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Fernando Batista da Universidade Federal de PE comprometidos com a preservação e difusão desta arvore, bem como a Professora Célia Cabral da Costa Arruda que efetivam ações afirmativas para implementação da lei 11.639/2007. O Decreto federal 5.5795/1995 que institui o dia nacional do Baobá em 19 de junho.

João Monteiro
Historiador, Especialista em Preservação de Acervos, Coordenação do Quilombo Cultural Malunguinho

Um Pé de Quê Baobá Parte 1

Um Pé de Quê Baobá Parte 2

sábado, 11 de junho de 2011

Patrimônio Afro religioso em alerta!

Mãos de Ifatoogùn, Paulo Bráz Criôt do Ministério da Cultura e Kimbanda do Quilombo Cultural de Malunguinho.



“A EMPETUR dá inicio às ações do projeto de Turismo Étnico, dando destaque após visita técnica ao Terreiro Ylê Axé Airá Ibona, em Pirapama", insiste dizendo que, o referido “Terreiro foi fundado onde no passado eram Terras do Barão de Pirapama” (publicado do Diário Oficial do Estado de Pernambuco dia 10, pg.02) com total respaldo do Antropólogo Raul Lody, ficando claro a total falta de comprometimento deste com as verdadeiras tradições de Pernambuco, a matéria ainda traz uma fala da Yalorixá do Terreiro dizendo que:"Trazer turistas para nosso terreiro vai ajudar na renda que precisamos para manter o espaço e as pessoas vão conhecer melhor nossa cultura". desde quando o povo de Terreiro precisou de turistas para se manterem? Acredito neste projeto, pois entendo ser necessário ao programa de inclusão e reparação histórica que os gestores governamentais alardearam durante a campanha eleitoral, só que temos que ficar alerta para nossa história não virar contos da Carojinha, ser o exótico, como foi tratada a “Venuus noire”, Saartjie em 1810 que virou objeto de entretenimento da nobreza e chamou a atenção dos cientistas e atração de circo(Diário de Pernambuco, pg.F3) é assim que sempre fomos tratados pelos descendentes da falsa nobreza portuguesa e agora os mesmo querem se locupletar de nossa cultura religiosa.

No canal www.youtube.com/empeturpress, o dito antropólogo faz suas considerações.

Bom, escrevo estas breves linhas para registrar nossa insatisfação com os Sacerdotes e sacerdotisas tradicionais que insistem em serem massa de manobra, mesmo com tantas reuniões, cursos, encontros e caminhadas alguns destes insistem em não levar em consideração suas próprias histórias e tradições ancestrais, os resquícios coloniais continuam bem vivos e agora mais do que nunca tentam trazer a história dos repressores e escravocratas em detrimento da historia dos reprimidos, humilhados e excluídos, tem aumentado substancialmente as "Yás Funfun ti ara dúdú" que têm melhor prestigio junto aos gestores que desconhecem geralmente o histórico do povo de Terreiro de Pernambuco e se iludem com as performances de vestuários e com um conjunto de línguas estranhas, nunca o Yorubá.

Nossos grandes Sacerdotes e Sacerdotisas continuam esquecidos em seus humildes Terreiros localizados nos Altos, Becos e Vielas de nossa cidade e de certa forma protegidos! Precisam de ações afirmativsa de infra estrutura e de saúde.

Agora quem comprar um Casarão antigo, Engenho, Palacete etc. e transformá-lo num Terreiro, terá o respaldo governamental? Pois as paredes, os assentamentos o chão e as consciências coletivas acumuladas de Axé ancestral perdem seu valor? Faz-se necessário identificar quais os templos que detém tais acúmulos, pois lá moram humanos que passaram longo período de exclusão social e política.
Como não sou sacerdote e nunca tive a menor pretensão de ser-lo, faço votos que a consciência das novas gerações sensibilizem-se na perspectiva de manter a dignidade ancestral, procurem ampliar seus conhecimentos sacerdotais sem perder de vista a memória, a tradição e principalmente sua história.

Como Omo Xangô com 26 anos de Religião e 6 anos de iniciado me sinto totalmente a vontade para fazer este registro.

João Monteiro
Omo Xangô Obá Aduban
Coordenação do Quilombo Cultural Malunguinho
Historiador, Especialista em Preservação de Patrimônio Documental

Kipupa Malunguinho em Exposição na Universidade de Brasília - UNB


Kipupa Malunguinho em Exposição na Universidade de Brasília - UNB

Lançamento do ciclo de projeções de documentários e de mostras fotográficas do Iris - Laboratório de Imagem e Registro de Interações Sociais (DAN/UnB).

Com as fotografias feitas no período de sua pesquisa acadêmica em Pernambuco, o mestre em antropologia pela UNB, Pedro Stoekcli Pires, mostra o V Kipupa Malunguinho e parte de sua história nesta exposição. O público terá a oportunidade de conhecer um dos movimentos mais importantes de resistência do povo da Jurema do Brasil, que acontece sempre todos os anos em setembro (mês de Malunguinho) no Catucá, matas do Engenho Utinga, Pitanga II, Abreu e Lima - Pernambuco. A fumaça está bem repersentada com as fotos de Pedro, de fato ele resistrou a face mais profunda de nossa tradição e religiosidade.

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho.
alexandrelomilodo@gmail.com