sábado, 11 de junho de 2011

Patrimônio Afro religioso em alerta!

Mãos de Ifatoogùn, Paulo Bráz Criôt do Ministério da Cultura e Kimbanda do Quilombo Cultural de Malunguinho.



“A EMPETUR dá inicio às ações do projeto de Turismo Étnico, dando destaque após visita técnica ao Terreiro Ylê Axé Airá Ibona, em Pirapama", insiste dizendo que, o referido “Terreiro foi fundado onde no passado eram Terras do Barão de Pirapama” (publicado do Diário Oficial do Estado de Pernambuco dia 10, pg.02) com total respaldo do Antropólogo Raul Lody, ficando claro a total falta de comprometimento deste com as verdadeiras tradições de Pernambuco, a matéria ainda traz uma fala da Yalorixá do Terreiro dizendo que:"Trazer turistas para nosso terreiro vai ajudar na renda que precisamos para manter o espaço e as pessoas vão conhecer melhor nossa cultura". desde quando o povo de Terreiro precisou de turistas para se manterem? Acredito neste projeto, pois entendo ser necessário ao programa de inclusão e reparação histórica que os gestores governamentais alardearam durante a campanha eleitoral, só que temos que ficar alerta para nossa história não virar contos da Carojinha, ser o exótico, como foi tratada a “Venuus noire”, Saartjie em 1810 que virou objeto de entretenimento da nobreza e chamou a atenção dos cientistas e atração de circo(Diário de Pernambuco, pg.F3) é assim que sempre fomos tratados pelos descendentes da falsa nobreza portuguesa e agora os mesmo querem se locupletar de nossa cultura religiosa.

No canal www.youtube.com/empeturpress, o dito antropólogo faz suas considerações.

Bom, escrevo estas breves linhas para registrar nossa insatisfação com os Sacerdotes e sacerdotisas tradicionais que insistem em serem massa de manobra, mesmo com tantas reuniões, cursos, encontros e caminhadas alguns destes insistem em não levar em consideração suas próprias histórias e tradições ancestrais, os resquícios coloniais continuam bem vivos e agora mais do que nunca tentam trazer a história dos repressores e escravocratas em detrimento da historia dos reprimidos, humilhados e excluídos, tem aumentado substancialmente as "Yás Funfun ti ara dúdú" que têm melhor prestigio junto aos gestores que desconhecem geralmente o histórico do povo de Terreiro de Pernambuco e se iludem com as performances de vestuários e com um conjunto de línguas estranhas, nunca o Yorubá.

Nossos grandes Sacerdotes e Sacerdotisas continuam esquecidos em seus humildes Terreiros localizados nos Altos, Becos e Vielas de nossa cidade e de certa forma protegidos! Precisam de ações afirmativsa de infra estrutura e de saúde.

Agora quem comprar um Casarão antigo, Engenho, Palacete etc. e transformá-lo num Terreiro, terá o respaldo governamental? Pois as paredes, os assentamentos o chão e as consciências coletivas acumuladas de Axé ancestral perdem seu valor? Faz-se necessário identificar quais os templos que detém tais acúmulos, pois lá moram humanos que passaram longo período de exclusão social e política.
Como não sou sacerdote e nunca tive a menor pretensão de ser-lo, faço votos que a consciência das novas gerações sensibilizem-se na perspectiva de manter a dignidade ancestral, procurem ampliar seus conhecimentos sacerdotais sem perder de vista a memória, a tradição e principalmente sua história.

Como Omo Xangô com 26 anos de Religião e 6 anos de iniciado me sinto totalmente a vontade para fazer este registro.

João Monteiro
Omo Xangô Obá Aduban
Coordenação do Quilombo Cultural Malunguinho
Historiador, Especialista em Preservação de Patrimônio Documental

Um comentário:

QUILOMBO DA XAMBÁ disse...

Infelizmente, assistimos novamente uma atitude equivocada que folcloriza mais uma vez a nossa religião. Talvez não seja exagero meu afirmar que hoje estamos diante de um governo que trata a cultura afro-indígena de forma tal qual só vista e exercida pelo interventor Agamenon Magalhães. No entanto, este governo desestrutura essa cultura se utilizando de instrumentos tão sutis que se tornam imperceptíveis para a grande maioria do povo de terreiro. Hoje, no estado de Pernambuco em nenhuma esfera do governo não temos nenhuma representação do povo de terreiro que podemos nos orgulhar. O que temos são falsas representatividades e líderes construídos para atender a uma classe intelectual elitizada, que tiram proveito da história do povo de terreiro que hoje sofre todas as mazelas e descompromisso do governo. Assim, compete a nós dessa nova geração redesenhar uma nova configuração para que os nossos filhos possam encontrar um outro panorama no qual não precisemos mais estrar discutindo a perseguição do estado ao nosso culto, a desarticulação do próprio movimento do povo de terreiro, o charlantanismo de muitos, e que acabem com esses desfiles de rua que só folclorizam ainda mais a nossa tão rica cultura. O que se precisa é fazer um trabalho que abarque toda a nossa ancestralidade, discussões políticas como o Quilombo Cultural Malunguinho vem desenvolvendo durante esses anos. Hoje, os terreiros de candomblé estão entregues à própria sorte. Seus patrimônios arquitetônicos (barracões) se encontram em estado de deterioração. No entanto, o governo não busca desenvolver nenhum trabalho de restauração/preservação e tombamento desses espaços como patrimônio do nosso povo, como é feito com as igrejas católicas, que são reformadas, restauradas e tomabadas com recursos públicos, algo inadimissível já que a igreja católica é uma instituição privada e que possui milhares de instituições com fins lucrativos, a exemplo das universidades católicas, em todo o mundo. Assim, meu irmão, com meus 29 anos de santo, sinto-me inteiramente empoderado para comungar com você todas as suas colocações. Axé e vamos em frente que não podemos parar nem dar espaço para determinados tipos de intelectuais que há anos vêm mamando na teta dos governos. Guitinho da Xambá.