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quinta-feira, 1 de março de 2018

Fora Michele Collins! Alexandre L'Omi L'Odò faz apelo público em defesa do Povo de Terreiro



Fora Michele Collins! Alexandre L'Omi L'Odò faz apelo público em defesa do Povo de Terreiro

#ForaMicheleCollins!

Vídeo denúncia e de apelo à justiça para que sejam cumpridas as leis contra o racismo e a intolerância religiosa.

Nós, Povo de Terreiro, fomos profundamente violentados pela vereadora do Recife, Michele Collins, que em um ato coletivo de racismo, realizou um ato, dia 3 de fevereiro, na beira mar, para "quebrar a maldição de Iemanjá sobre a Terra". Este crime, ficou explícito e público a partir de uma publicação em seu facebook, onde orgulhosamente ela para mostrar sua maligna ousadia, perante os adeptos da fé intolerante, violenta e desrespeitosa, escreveu e publicou uma fotografia deste ato.

Nós, do Quilombo Cultural Malunguinho, hermanados com todos os movimentos de luta do Povo de Terreiro e dos direitos humanos, dizemos publicamente #ForacheleCollins

Esse crime não pode ficar impune! Queremos a criminalização pela lei destes atos de racismo, intolerância religiosa e incitação ao ódio e à xenofobia.
Não queremos as desculpas dela! Ela retirou a postagem do ar e em matérias de jornal falou que escreveu de forma equivocada... MENTIRA! Sabemos que todos os dias dentro das quatro paredes das "igrejas evangélicas", é ensinado o ódio e a intolerância religiosa. O desrespeito ao próximo... Isso tudo a partir de interpretações equivocadas do livro sagrado dos cristãos - a bíblia.

Rogo à Iyemojá, à Oxalá e à Xangô, que a justiça seja feita. Um crime público e de tão grande repercussão não pode passar impune de forma alguma! Se a Justiça permitir a impunidade, estará nos condenando à todas e todos, que fomos vítimas, e abrindo o precedente para conflitos religiosos onde a violência será protagonista.

Ajudem a COMPARTILHAR esse apelo!

Axé! Agô Kolofé!

Vídeo produzido pela Aláfia Filmes - Instituição de luta pelos povos tradicionais.

Alexandre L'Omi L'Odò
Coordenador Geral do Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Juremologia para todas e todos - disponibilizada para baixar a dissertação de mestrado do juremeiro Alexandre L'Omi L'Odò

Alexandre L'Omi L'Odò demonstra o documento de aprovação no mestrado em ciências da religião na UNICAP, após sua defesa pública da dissertação Juremologia: uma busca etnográfica para sistematização de princípios da cosmovisão da Jurema Sagrada. Foto de Joannah Flor.


Juremologia para todas e todos
Disponibilizada para baixar a dissertação de mestrado do juremeiro Alexandre L'Omi L'Odò

Disponibilizo com muito amor e afeto o texto final e definitivo de minha dissertação de mestrado para todas e todos. Se interessados ou interessadas, é só baixar o arquivo em PDF no link, ao final deste texto.

Como conclusão derradeira, fechando meu ciclo de mestre na academia, no curso de Ciências da Religião da UNICAP, entrego à sociedade, o texto que me custou alguns anos de luta e muita dedicação para ser finalizado (ou quase finalizado, já que uma pesquisa deste vulto não se termina). Essa é uma prestação de contas, onde, por ter sido bolsista da CAPES (no governo de Dilma - PT), pude estudar e transcender meu universo de “menino da favela”, e virar intelectual nos termos da norma oficial da academia. Para mim já não é mais suficiente apenas ser um intelectual orgânico, como define Gramsci, em seus históricos escritos. Quero ser um catimbozeiro doutor, e assim continuarei essa luta até ser doutor de fato e de direito, pois se tem alguém que pode falar por nós, esse alguém somos nós, e não abro mão de conquistar esse direito com total dignidade e luta!

Ser intelectual e juremeiro é uma novidade em nossa sociedade. Mesmo com mais de 5017 anos de colonização, fui o primeiro juremeiro a defender um estudo na academia, que em 4 capítulos, sistematizou tudo de relevante que foi escrito e estudado sobre a Jurema, em um recorte histórico de 277 anos (1741 a 2017). Para além da profundidade historiográfica do texto, temos uma etnografia densa (GEERTZ), que trouxe a fala qualificada de diversos juremeiros e juremeiras de renome em Recife e Região Metropolitana, revelando para o mundo letrado uma cosmovisão ampla do que seria essa religião para as pessoas que a vivenciam, defendem e praticam com veemente fé e resistência.

Longe de ser uma cartinha de quase 300 páginas, de não academicidade, ou de movimento social (risco eminente que não me atingiu), meu texto foi elogiado pela banca examinadora com excelência, e pude com orgulho, responder com suficiência todas as argüições feitas no momento da qualificação e da defesa pública. Portanto, após tantas etapas complicadas e complexas, hoje posso me dizer satisfeito com o que escrevi, mesmo sabendo que poderia escrever mais... Aliás, continuo escrevendo mais, e lançarei em breve dois livros, que são resultado desta pesquisa.

Ter lançado o inédito termo JUREMOLOGIA no campo da pesquisa acadêmica, foi outra ousadia intelectual minha. Fundamentar este neologismo, e, defendê-lo, também me custou muito exercício de pesquisa e escrita. Contudo, aí está, firme e forte, pronto para ser usado por quem desejar. Também, devem questioná-lo, afinal, no campo acadêmico, tudo pode ser ampliado ou questionado, coisas que me dão muito entusiasmo e prazer, pois sou sim um homem que gosta de lutar a partir do campo intelectual (também). Usem, ampliem a pesquisa, adentrem este universo, pois, tudo que fiz, foi no intuito de contribuir para que mais e mais pessoas de terreiro possam acreditar que é possível sim, se formar e ocupar esse lugar privilegiado, que pertence à apenas 5% da população brasileira.

Essa dissertação, nasceu de meu sonho de mudar meu próprio mundo. O mundo da exclusão e da não sapiência daquilo que eu praticava. Da mesma forma que estudei autonomamente a língua yorùbá, e hoje dou aulas e traduzo toadas, me dediquei aos estudos da Jurema para compreendê-la mais e poder contribuir em seu avanço na sociedade como religião, sempre em uma perspectiva decolonial. Esses meus estudos tem mais de 15 anos, onde durante este tempo, pude colecionar textos e documentos importantes que me viabilizaram dar concretude a esta pesquisa.

Ser um sacerdote e intelectual é possível sim. Uma coisa não modifica a outra, e juntas, se fortalecem. Sou amante da tradição e profundo defensor da oralidade. Porém, sem ocuparmos a política e os espaços da intelectualidade, não estaremos fazendo grande coisa para o avanço de nosso povo. Temos que acordar o quanto antes! Ocidentalizar-se para desocidentalizar, é uma perspectiva de luta epistemologicamente pensada por mim e por tantos outros e outras para nos libertar das algemas do assombroso passado da escravidão e do holocausto indígena e suas heranças racistas. A Jurema que acredito, é a Jurema que quer se libertar das amarras do colonizador branco e cristão. Mesmo respeitando as tradições e tendo afeto por elas, como cientista e como sacerdote, me proponho, a estar na linha de frente da batalha, para podermos dar largos passos na conquista dos espaços desta sociedade, que também são nossos.

Não adianta apenas usar as redes sociais para promover informação sobre a Jurema, que é essencialmente uma religião de tradição oral. Temos que fazer coisas efetivas e amplas. É possível sim, firmar realizações efetivas como este texto/pesquisa e unir as ações virtuais (imateriais) com as ações práticas e concretas em outros campos. Este pode ser um caminho fértil para nos ajudar a avançar mais e mais, com força e inteireza.  Assim, poderemos olhar para trás e nos orgulharmos de tudo que nos dedicamos, pois palavras voam no ar, o que se registra, nem o vento branco do colonizador leva (parafraseando Mãe Stella de Oxóssi, uma das entrevistadas na dissertação).

Bom, espero que quem ler, possa me devolver uma crítica, uma fala, um comentário, uma ou várias discordâncias, etc. Preciso dialogar mais e mais com meus irmãos e irmãs por que essa pesquisa continua e se amplia...

Chega mais e COMPARTILHA, para que mais pessoas possam ter acesso. Muita gente me solicitou, agora ta aí, prontinha e toda disponível para ser degustada. J

Agradeço a todas e todos que me ajudaram a vencer cada etapa desta luta. Não foi fácil, mas ao final, o gosto e o empoderamento, da realização e da vitória, pagaram tudo.

A benção aos meus mentores: Reis Malunguinho, Major do Dia, Sr. Manso, Mestra Paulina, Caboclo Arranca Toco, Zé Pilintra, etc. Vocês são minha família indissolúvel. A benção Dona Leide de Sibamba, minha madrinha de Jurema. Adupé Oxum, iyá mi! Adupé Bàbá mi Ifátòògùn Paulo Braz Felipe da Costa, meu santo babalorixá e obrigado à minha digníssima iyalorixá Mãe Lu Omitogun, rainha oceânica de minha vida na religião nagô/jeje.

Tenho muito a quem agradecer, e com certeza nas páginas da dissertação estão os nomes de todas e todos que de um forma ou de outra contribuíram para que este texto existisse, disponível e livre para quem desejar se aprofundar na ciência mestra da jurema e sua história. “Tudo isso, é apenas uma gota no oceano”!

Sobô Nirê Mafá!
Trunfa Riá!
Saramunanga Cipopá!
A Jurema Merece Respeito!

Esta dissertação foi feita para “desfazer as coisas dos brancos” (Davi Kopenawa)!

Baixe a dissertação de mestrado Juremologia: uma busca etnográfica para sistematização de princípios da cosmovisão da Jurema Sagrada, no link abaixo:


Alexandre L’Omi L’Odò
Juremeiro, Historiador e Cientista das Religiões
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 24 de dezembro de 2017

“Faltou para muita gente”. Texto de reflexão sobre seu lugar de fala em relação aos temas afro indígenas

Alexandre L'Omi L'Odò fumando um cachimbo na Jurema, no X Kipupa Malunguinho. Foto de Carol Melo. Edição de L'Omi.

“Faltou para muita gente”. Texto de reflexão sobre seu lugar de fala em relação aos temas afro indígenas


Para compreender o que é liberdade negro indígena, faltou para muita gente, muita coisa. Portanto, decidi escrever este breve texto que aponta um pouco do que faltou para muita gente que quer assumir uma discussão e um lugar que não é seu, no campo da luta negra e indígena e do Povo de Terreiro.

Vejo pessoas apoiando o sincretismo religioso como um fato imutável. Vejo pessoas assumindo falas que jamais poderiam ter sido suas. Acompanho desenvolvimentos de teorias próprias e vazias que contribuem para o fortalecimento do racismo. Temos que conseguir debater melhor esses temas. Temos que nos posicionar e conversar sobre. Calar é o pior caminho. Na luta pelo Povo da Jurema, aprendi muito a ouvir e vivenciar a profundidade dos significados. Por isso, falo abaixo do que faltou para muita gente, na hora de uma fala sobre temas que envolvem nossas lutas, cultura, religiões e povos.

Faltou para muita gente:

Faltou para muita gente acordar ao som de tiros.

Faltou para muita gente ver o sol nascer em uma favela.

Faltou para muita gente ter lutado em Peixinhos.

Faltou para muita gente a possibilidade de ter trabalhado do GCASC – Grupo Comunidade Assumindo Suas Crianças.

Faltou para muita gente ter capinado e limpado o Nascedouro de Peixinhos.

Faltou para muita gente ter ouvido Rivaldo Pessoa falar sobre cultura negra.

Faltou para muita gente ter vivenciado os dias áureos do Alafin Oyó.

Faltou para muita gente ter ido à Colônia Z4 dançar o afoxé.

Faltou para muita gente debater com brancos e ser subestimado, mesmo estando certo, só por que você é pobre e de terreiro.

Faltou para muita gente ter ido ver o Maracatu Leão Coroado ensaiar em Águas Compridas.

Faltou para muita gente ter conhecido Dona Zuleide de Paula e ter conversado horas com ela sobre luta comunitária e história de base.

Faltou para muita gente ter vivenciado as atividades da Biblioteca Multicultural do Nascedouro de Peixinhos.

Faltou para muita gente ter podido ser do Boca do Lixo.

Faltou para muita gente ter ouvido o Ataque Suicida no palco.

Faltou para muita gente ter tido aulas de percussão com o genial mestre Toca Ogan.

Faltou para muita gente ter conhecido Sr. Matias, e seus filhos Marcos Matias e André Malê, mestres extraordinários.

Faltou para muita gente ter tocado no Bloco Mulambo.

Faltou para muita gente ter visitado terreiros paupérrimos nos morros e becos do Recife e Região Metropolitana.

Faltou para muita gente ter dado Cosme Damião e feito quebras panelas nas ruas dos bairros.

Faltou para muita gente ter passado um mês de quarto em recolhimento religioso para o Orixá.

Faltou para muita gente ter lutado pelas cotas raciais nas universidades.

Faltou para muita gente ter conversado com Massapê e visto suas músicas e poesias.

Faltou para muita gente ter saído de Peixinhos andando até Vila Popular para visitar o terreiro de Pai Raminho de Oxóssi.

Faltou para muita gente ter tocado ou dançado do Afoxé Ará Odé.

Faltou para muita gente ter ido às ruas lutar pela democracia.

Faltou para muita gente ter podido ouvir com atenção o Bloco Afro Lamento Negro.

Faltou para muita gente ter tocado ou dançado no Magê Molê.

Faltou para muita gente ter podido protestar contra o genocídio da juventude de Peixinhos em décadas passadas.

Faltou para muita gente ter ouvido Olodum com atenção.

Faltou para muita gente ter visto o Timbalada e sentido sua mensagem negra com profundidade.

Faltou para muita gente ter dançado dentro do Ilê Iyê e ter ouvido seus antigos LP's.

Faltou para muita gente ter podido participar de uma aula com Lepê Corrêa e ouvido seus ensinamentos.

Faltou para muita gente ter podido conhecer Sr. Luiz de França.

Faltou para muita gente ter conhecido o Mestre Dió (Deodato), gigantesco juremeiro.

Faltou para muita gente ter comido pirão de café, por falta de feijão.

Faltou para muita gente ter contribuído nos trabalhos em prol aos meninos e meninas de rua no Recife, a partir do CPP.

Faltou pra muita gente ter conhecido Demétrius e seus sonhos e coragem de transformar a realidade dos desvalidos.

Faltou para muita gente ter ouvido Chico Science com maior sensibilidade.

Faltou para muita gente ter conhecido o Sr. Amaro Fala Fina.

Faltou para muita gente ter conhecido João Meira de Peixinhos.

Faltou para muita gente ter visto o Balé Afro Akindelê e o Expressão Afro Brasil, ambos comunitários e feito por pessoas muito pobres.

Faltou para muita gente ter visto o Omo Lasó Àiyé nos palcos.

Faltou para muita gente ter visto Dito de Oxossi falando sobre povo negro.

Faltou para muita gente ter ouvido Cacique Chicão.

Faltou para muita gente ter lido os livros de Fanon e de Abdias Nascimento.

Faltou para muita gente ter conhecido a obra de Mestre Didi e ter-lhe pedido a benção.

Faltou para muita gente ter olhado com mais respeito para Carlinhos Brown.

Faltou para muita gente ter rasgado a bíblia de dentro de si.

Faltou para muita gente ter conhecido o insubstituível mestre negro Babá Paulo Braz Ifátòògùn.

Faltou para muita gente ter rezado com Mãe Lu Omitòògùn o mês mariano.

Faltou para muita gente ter visto o Mestre Sibamba incorporado na matéria da grande juremeira Dona Leide.

Faltou para muita gente ter conhecido Rolando Toro.

Faltou para muita gente ter lido os discursos de Osho.

Faltou para muita gente ter conhecido a Banda Etnia.

Faltou para muita gente ter gargalhado ao som de Dona Selma do Coco.

Faltou para muita gente ter sambado junto à Mestre Salustiano e visto suas aulas de Rabeca.
Faltou para muita gente ter estudado a língua Yorùbá.

Faltou para muita gente ter conhecido Oxum.

Faltou para muita gente o conhecimento sobre a luta de Malunguinho e do Quilombo do Catucá.

Faltou para muita gente ter acreditado que seria possível estudar e romper o status da pobreza a partir dos estudos.

Faltou para muita gente ter votado em Lula.

Faltou para muita gente ter lutado de fato contra o Golpe.

Faltou para muita gente ter ouvido e lido Lecí Brandão e Mertinho da Vila.

Faltou para muita gente ter lido umas poesias de Solano Trindade.

Faltou para muita gente ter vivenciado um verdadeiro Movimento Negro.

Faltou para muita gente ter fumado um cachimbo com os parentes indígenas.

Faltou para muita gente ter conhecido as poesias de Oriosvaldo de Almeida.

Faltou para muita gente parar para refletir sobre o sincretismo.

Faltou para muita gente ter tido coragem de romper com as correntes que nos escravizam no capitalismo.

Faltou para muita gente coragem de superar.

Faltou para muita gente sensibilidade.

Faltou para muita gente ter conhecido Mãe Ivanize de Xangô.

Faltou para muita gente ter parado para ouvir os saberes negros do Mestre Afonso do Maracatu.

Faltou para muita gente ter presenciado a incansável fé de Gilson Gomes na dança negra.
Faltou para muita gente vivenciar a mata sagrada de Malunguinho.

Faltou para muita descalçar os pés no Kipupa e receber a fumaça divina da Jurema.

Faltou para muita gente conhecer Paulo Queiroz e sua superação social através da dança.

Faltou para muita gente ter ouvido Chico Buarque de Holanda e refletir a partir de suas críticas musicais.

Faltou para muita gente ter participado das atividades do Axé Opô Afonjá, nos bons tempos.

Faltou para muita gente ter vivenciado as edições de ouro do Alaiandê Xirê.

Faltou para muita gente o convívio negro com Rita Honotório.

Faltou para muita gente ter conhecido a teologia da libertação.

Faltou para muita gente ter sentado aos pés do Iroko do Sítio de Pai Adão.

Faltou para muita gente ter ouvido Dona Mãezinha falando e cantando.

Faltou para muita gente ter visto Paulo Braz Ifátòògún dançando... Esse sim era inesquecível.

Faltou para muita gente ter prestado atenção no pensamento de Davi Kopenawa.

Faltou para muita gente ouvir os velhos incansavelmente.

Faltou para muita gente ter participado das edições do Congresso Nacional do Desfazendo Gênero.

Faltou para muita gente ter passado horas e horas limpando penas de galinha de uma cerimônia para os Orixás.

Faltou para muita gente ter visto o milagre de Ògúnté Mi, que materializou um peixe-boi no mar, em decorrência a entrega da Panela de Iyemojá.

Faltou para muita gente ver Ògúnté em terra dançando... Isso é Deus/Deusa puro.

Faltou para muita gente ter ouvido José Jorge de Carvalho e suas geniais lucubrações.

Faltou para muita gente ter amado pessoas loucas.

Faltou para muita gente ter se entregado à tudo que pode nos edificar em prol da luta contra o racismo.

Faltou para muita gente muita coisa negra e indígena.

Faltou para muita gente reconhecer que é branco ou branca e que seu lugar de poder é um desafeto para o povo que luta.

Faltou para mim tanta coisa, ainda assim...

Portanto, antes de falar, ou contestar o debate decolonial, antes de querer construir um discurso conformista sobre o sincretismo e a relação do cristianismo com o povo de terreiro, veja de onde, e em que condições você está falando. Mesmo sendo democrático o direito de opinar sobre qualquer coisa, creio ser necessário uma reflexo sobre seu lugar de fala. Calar por vezes é necessário. Abra-se para a desconstrução. Tem muita gente sábia que há anos luta para tentar realizar um processo de libertação ideológica ampla para o povo negro e indígena. Se junte a nós, venha caminhar conosco, venha ser parte de um mundo do bem viver e da harmonia social. Venha carregar um bombo nas costas e tocar um maracatu sem reclamar que está doendo os calos causados pelas baquetas na mão.

Salve a fumaça e que não falte para ninguém o direito da luta anti racismo.

Sobô Nirê Mafá!!
“Malunguinho no mundo, é meu braço direito”.

Alexandre L’Omi L’Odò
Quilombo Cultual Malunguinho

alexandrelomilodo@gmail.com 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

50 anos de axé de Mãe Lu Omitòógún - Iyemojá Ògúnté Mi, firme como uma montanha!


50 anos de axé
Àjòdún Àádota

Iyemojá Ògúnté Mi, firme como uma montanha!

Foi em um Janeiro de 1966 que uma jovem negra de apenas 16 anos, filha de Iyemojá Ògúnté, se iniciou na tradição nagô de seus avós e pais em rituais de muito segredo e discrição. Lá no passado, em um período de grande perseguição às religiões afro que a doce adolescente nasceu para o Orixá.

Teve em sua cabeça as fortes mãos da Sra. Maria Vicentina da Costa, a Tia Vicência - Ifádayrò  (de Iyemojá Sesú), sua iyalorixá, filha adotiva de Ignês Joaquina da Costa – Ifatinuké, e teve como pai (no ritual) Olofin Oduduwá, “padrinho” do Sítio de Pai Adão.

Participaram deste ritual, seu pai carnal Malaquias Felipe da Costa – Ojé Bií, e como “padrinhos” Paulo Braz Felipe da Costa – Ifátòógún (seu irmão carnal) e o Sr. Toinho do Monte. Sua “madrinha” foi Tia Mãezinha – Iyamidè, filha carnal de Pai Adão, que dela cuidou dentro do Peji do Sítio junto com Tia Vicência nos dias de seu resguardo religioso.

Sua trajetória, iniciou mesmo na Jurema Sagrada, quando nos antigos tempos do Nagô, era necessário primeiro confortar os caboclos e caboclas para se ter a permissão para “fazer o santo”. Consagrada para o Caboclo Viturino e o mestre Antônio, tinha em sua mãe carnal a maior escola possível nesta “ciência mestra”, já que a Sra. Leônidas Joaquina da Costa - Omisèun era uma grande juremeira, herdeira da tradição indígena de seus pais e avós.

Ela ainda herdou a tradição da fé em Nossa Senhora da Conceição (sincretizada com Iyemojá nos cultos de matriz africana de Pernambuco), santa católica que sempre foi adorada por Pai Adão, pelo seu Pai e hoje por ela com profundo amor, devoção e fervor. Aprendeu a rezar o mês mariano e zela pela imagem de Maria, que tem mais de 180 anos de existência, pois pertenceu a Pai Adão no passado.

É isso mesmo, a menina herdou a tradição da tríplice pertença religiosa. A Jurema, a Tradição Nagô e o Catolicismo Popular vivem harmonicamente em seus caminhos do axé. Seu cosmo é regido por este universo xenofílico.

A menina cresceu e se demonstrou uma grande iyalorixá. Com sorriso largo, carisma sem igual, suavidade nas palavras, sabedoria nos conselhos dados, humildade religiosa e devoção ímpar, ela trouxe para junto de si centenas de filhos e filhas que a amam e comungam de sua trajetória de vida com felicidade. Ela tem mão odara, e quem se banha em suas águas, conhece o bem e a beleza da vida afroreligiosa.

Hoje, a Sra. Maria Lucia Felipe da Costa, Mãe Lu Omitòógún, de 65 anos de idade, sacerdotisa mor do Ilé Iyemojá Ògúnté, é na linhagem hierárquica nagô a iniciada à Ògúnté mais antiga viva do Sítio de Pai Adão. É professora formada em Letras/Inglês e pós-graduada em história das artes, mãe de uma única filha carnal chamada Bárbara (atual mãe pequena do terreiro) e professora de uma escola de referência no Recife.

Ela é oceânica! Mulher de grande respeito. Cuidadora e criadeira de muitos filhos adotivos. Arrimo de família. Guerreira e sonhadora. Consciente de seu papel como mulher negra, milita na causa ainti-racismo. Ensina que devemos lutar por nossos direitos e vai à luta com seus filhos, pois é uma mãe sem igual. Ela compra as brigas dos filhos sim, encara a guerra e vence as batalhas que a vida nos traz. Ela segura em nossas mãos. Ela nos acaricia e acolhe. Na beira de sua cama choramos nossas mágoas. Ela também chora com a gente. Ela nos abraça e nos faz ter a certeza que sempre poderemos contar com sua força maternal de grande sacerdotisa.

Mãe Lu é nossa Iyemojá, a grande mãe. Nela tudo é seio farto. Nela mora o sossego do mar calmo em dias de paz.

“Iyemojá a to f’ara ti bi oké – Firme como uma montanha”!
Tití àiyé!

No dia 26 de Novembro de 2016, celebraremos em nosso terreiro seus 50 anos de iniciação religiosa com o Presente (Panela) de Iyemojá e a saída de dois iyawò. Neste ato, vamos vibrar, louvar, celebrar o dom de termos esta grande mulher como nossa mãe e também de termos Ògúnté Mi como nossa regente soberana nos caminhos de odú.

Convidamos todas e todos. Axé!

Alexandre L’Omi L’Odò.
Omo Orixá - Historiador e Mestrando em Ciências da Religião.
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O Povo de Axé quer o Babá Paulo Braz Ifátòógún como Patrimônio Vivo de Pernambuco

Babá Paulo Braz. Foto de Marcelo Curia. MDS. 2010.

O povo de Axé quer o Babá Paulo Braz Ifátóògún como Patrimônio Vivo de Pernambuco


Nosso Babá Alapini Paulo Braz Ifátòógún está concorrendo ao Premio do Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco 2016. Ele é uma proposta muito relevante para que este edital reconheça pela primeira vez um Mestre de Matriz Africana, um Mestre dos saberes de terreiro, um Mestre da cultura yorùbá no Brasil.

Vamos vibrar positivamente e compartilhar muito as informações do nosso sacerdote para que o Conselho Estadual de Políticas Culturais de Pernambuco enxerguem ele com bons olhos e faça essa justiça história para o povo de terreiro.

Salve Babá. O senhor é um diamante da nossa cultura e religião. Axé!

#PaiPauloBrazNossoPatrimônioVivodePernambuco!

Foto de Marcelo Curia.

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 9 de outubro de 2016

Campanha - Pai Paulo Braz Meu Patrimônio Vivo

Pai Paulo Braz Ifátòógún - Alapini. Foto de Alcione Ferreira.

CAMPANHA
Pai Paulo Braz Meu Patrimônio Vivo!
#PaiPauloBrazMeuPatrimônioVivo!

Quem o conhece, quem passa algumas horas perto dele, quem escuta suas histórias e contos, quem o vê falando yorùbá e traduzindo, quem o vê cantar, quem o vê dançar, quem o vê celebrar a ancestralidade africana, quem o vê invocar os Orixás, quem joga o Ifá e descobre seu destino com ele não tem dúvidas, ele é um Patrimônio Vivo do Povo de Terreiro de Pernambuco e consequentemente do Brasil, um Patrimônio da Tradição de Matriz Africana, um Patrimônio Nagô.

Pai Paulo Braz IfáTòógún, é um raro sacerdote de Terreiro. Neto biológico de Felippe Sabino da Costa (Pai Adão) e filho do grande babalorixá Malaquias Felipe da Costa (Ojé Bií), ele é o herdeiro direto desta tradição nagô em Pernambuco. Babalorixá e Alapini (mestre do culto aos mortos/Eguns)do Ilé Iyemojá Ògúnté, leva à frente com muita garra os ensinamentos ancestrais de seu avô e pai.

Ele fala yorùbá! Isso mesmo. Nele está uma das últimas reservas dos saberes desta língua africana. Seus ensinamentos estão sendo repassados para os seus filhos netos e omorixás ("filhos de santo"), afinal, ele antes de tudo é um grande educador, um grande professor do divino, da tradição afro e da cultura popular.

Pai Paulo recebeu na Nigéria, pelos sumo sacerdotes e ministros de Ilé Ifé (terra sagrada africana) o título de Babá Ifá Muyidè, que significa "Ifá trouxe seu sábio filho de volta à sua terra natal". Esta honraria é uma das mais altas recebidas por um sacerdote na tradição africana, pois a partir deste momento ele foi consagrado um Osijé Agbaiyé - Um velho sábio detentor dos saberes totais da tradição, um mestre, uma referência para todos e todas irem se aconselhar.

Ele é simples. Mesmo sendo magnânimo é simples demais. Muito comunicativo e inteligente surpreende com suas longas preleções sobre os saberes orais nagô. Ele é um livro de grande valor. Nele estão guardados os símbolos necessários para a preservação de nossa memória, saberes e fazeres.

Ninguém que pertençe a tradição de terreiro pode dizer o contrário. Ele é Nosso Patrimônio Vivo!

Quem desejar conhecer sua história mais profundamente, visite este link e leia o texto que resume sua trajetória de vida na cultura e no axé: http://alexandrelomilodo.blogspot.com.br/2012/02/tio-paulo-braz-ifatoogun-um-sacerdote.html

Mais uma vez estamos indicando Pai Paulo para o Prêmio do Patrimônio Vivo de Pernambuco (foi indicado e não ganhou em 2013). Ele merece ser o primeiro Patrimônio Vivo de Matriz Africana contemplado deste edital, por uma questão de justiça e reparação. Afinal, ele tem todas as prerrogativas para ser aprovado por unanimidade.

Esta campanha a partir de hoje circulará na internet para fortalecer esta candidatura do Povo de Terreiro. Vamos compartilhar e enviar boas energias para o Conselho Estadual de Políticas Culturais de Pernambuco fazer uma escolha correta e justa elegendo Pai Paulo Braz como Patrimônio Vivo de Pernambuco, ele merece essa homenagem em vida, pois é um homem idoso e com muitos problemas de saúde.

Axé e que nossos Orixás e ancestrais o abençoem nessa luta. Vamos nos manter em orações africanas para essa vitória inevitável!

Kolofé babá wá!
Ibá ooooooooooooo!
Ire oooooooooo!

COMPARTILHEM!!!

#PaiPauloBrazIfátòógún
#PatrimôniovivodePernambuco
#PaiPauloBrazNossoPatrimônioVivo

Foto de Alcione Ferreira.

Alexandre L'Omi L'Odò
Historiador e Mestrando em Ciências da Religião
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com