segunda-feira, 30 de maio de 2016

Professor PhD em História Marcus Carvalho é abordado em questões do Concurso público para Soldado da Polícia Militar do Estado de Pernambuco

Professor Marcus Carvalho. Foto de Joelson Souza. 2015.

Professor PhD em História Marcus Carvalho é abordado em questões do Concurso público para Soldado da Polícia Militar do Estado de Pernambuco

Conteúdos da história dos africanos e afrodescendentes de Pernambuco caíram na prova de seleção de 1.500 (mil e quinhentos) soldados da Polícia Militar do Estado. No edital regulamentado pela Portaria Conjunta SAD/SDS N° 25 de 09 de Março de 2016, cujo prova foi no último domingo dia 29 de Maio, contou também com duas questões sobre os indígenas e outras duas questões sobre a cultura de PE.

Ao ler as duas questões sobre a história dos africanos e afrodescendentes em uma prova de seleção de policiais militares, pude como professor de história ter um pouco de esperança com os futuros soldados que estarão nas ruas da Cidade para “nos defender”. Ter exigido o estudo destes conteúdos em um edital tão procurado, é também uma forma de reparação (muito pequena mas válida) contribuindo para o ampliar do entendimento dos “concurseiros” sobre uma parte da história da África e dos afrodescendentes no Brasil. Isso fortalece a luta pela implementação das leis federais 10.639/2003 e 11.645/08 que instituem como obrigatório o ensino da história dos africanos, afrodescendentes e indígenas nas instituições escolares e de formação de todo país.

Pude averiguar o conteúdo da “prova Azul”, após ser surpreendido por Mariana, uma amiga, que carinhosamente fez questão de me mostrar sua prova e ler para mim as questões que tratavam do conteúdo da extensa e valiosa pesquisa do Professor PhD em História Marcus Carvalho. Com muito entusiasmo, sabendo que eu iria adorar saber sobre isso, ela fez a leitura das questões 41 e 42, cujos conteúdos abordavam os fatos da escravidão - a primeira tratava da fuga e resistência de escravizados(as), e a segunda travava da lei de 1831 (Lei Feijó) que extinguia o tráfico escravista no Brasil [...].

Conteúdos bastante interessantes, levando em consideração que eles aludiam ao entendimento de que a população negra nunca foi passiva e sempre construiu estratégias de sobrevivência lutando contra os opressores (afastando o antigo pensamento que os negros e negras sempre foram passivos ao processo escravocrata), e também, mostrando que os crimes e violações de direitos contra esta mesma população sempre foi algo considerado como normal (até hoje é em certo modo). Ambas as questões complexas para quem nunca estudou tais conteúdos negados pelos currículos oficiais das escolas, mas válidas para despertar a criticidade das mentes dominadas pela história dos brancos colonizadores europeus que sempre foram incutidas na nossa cabeça desde o início da vida escolar.

A contribuição dada para todos nós pelo professor Marcus Carvalho é imensa. Sem ele não teríamos hoje um entendimento amplo sobre a luta por liberdade da população negra em Pernambuco. Gostei de ver sua obra sendo abordada com tanto respeito dentro de um concurso público de importante relevância para nosso Estado.

É entusiasmante ver um amigo/professor sendo reconhecido assim. Mais que merecido! Orgulho em viver no mesmo tempo histórico que este grande mestre da academia.O professor Marcus Carvalho é um companheiro de luta das antigas. Com ele aprendi e continuo aprendendo como ser historiador de verdade. Aprendo como olhar a história por baixo e mostrar os fatos que a historiografia ainda insiste em esconder de todos nós. Ele é um guerreiro da história local. Um grande pesquisador de documentos antigos que ninguém quer colocar a mão por causa dos fungos... Espelharei-me sempre neste exemplo de pesquisador.

Gostaria muito que também tivessem caído questões sobre Malunguinho. Imagina...! Mas outros concursos virão e poderemos nos surpreender com questões que possam muito mais ensinar do que avaliar.

Para compartilhar e aprendermos todos juntos, decidi digitar na íntegra as duas questões (41 e 42) que caíram na prova. A página é a 16 do “caderno azul”, APROVEITEM, nunca é demais o saber.

COMPARTILHEM!
Salve a fumaça!

*As respostas estão no final da postagem. Mas antes de vê-las tenta pensar e responder, vai valer a pena.

--> Questões sobre a história dos africanos e afrodescendentes em Pernambuco – prova da polícia militar 2016/PE:

41. Durante os três séculos, nos quais vigorou a escravidão no Brasil, a resistência de escravos tanto de origem africana quanto de origem indígena foi constante e tomou as mais diversas formas. No século XIX, quando a escravidão brasileira viveu seu apogeu com o maior afluxo de escravos africanos, o crescimento das cidades fez multiplicar nelas não apenas o número de escravos mas também as formas de resistência, que se diversificavam cada vez mais. E, se as fugas sempre foram as mais famosas e emblemáticas dessas formas de resistência, nunca foram as únicas. Sobre elas, diz o historiador Marcus Carvalho:

“Nunca faltaram fugas de escravos no Recife. Alguns se aproveitavam dos cortes de o Capibaribe fazia entre os bairros para se evadirem dentro própria cidade em busca de dias melhores. Existem ainda casos mostrando o outro lado da história: fugas do Recife para o interior, ou até para fora da província, buscando a distância do senhor ou a proximidade de parentes, amores, amigos e pessoas da mesma etnia ou nação” (CARVALHO, M. J. M. Liberdade: Rotinas e Rupturas do Escravismo no Recife, 1822-1850. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2010, p. 176).

Tendo em vista esse cenário, assinale a alternativa INCORRETA.

A) O quilombo do Catucá, situado nas margens do Recife, na primeira metade do século XIX, caracterizou-se por ser um espaço de resistência contra a escravidão, que cresceu beneficiando-se dos muitos conflitos interno das próprias elites escravistas, principalmente nas chamadas insurreições liberais.

B) Construções culturais, como a capoeira, o maracatu, e mesmo o culto a determinados santos católicos, como São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, foram importantes formas de resistência cotidiana, elaboradas por escravos e ex-escravos nas margens da sociedade escravista e mesmo em suas instituições mais importantes, como a Igreja Católica.

C) Com o crescimento da escravidão urbana no Recife do século XIX, começaram a se desenvolver novas formas de fugas, como as chamadas ‘fugas de portas a dentro’, quando um escravo urbano fugia de seu dono, mas permanecia na mesma cidade, agora servindo a um novo senhor com o qual havia estabelecido um processo de negociação.

D) O quilombo do Catucá, situado nas margens do Recife, na primeira metade do século XIX, cresceu associado a esse centro urbano, beneficiado das fugas de escravos do Recife e canaviais da região, chegando também a se expandir sobre toda região antes dominada por seu predecessor, o quilombo de Palmares.

E) O trabalho escravo nos canaviais também gerava resistência, fosse na forma de revoltas e assassinatos de feitores, fosse na forma de sabotagem da produção.


42. O “desembarque de Sirinhaém” em 1855, em Pernambuco, teria sido apenas mais um dos vários episódios de contrabando de escravos, caso não tivesse dado errado. Tudo começou quando o comandante do palhabote (espécie de embarcação também utilizada para o tráfico atlântico de escravos), invés de ancorar no engenho de João Manuel de Barros Wanderley, acabou parando nas terras do seu vizinho. Este, por sua vez, prontamente denunciou o caso às autoridades. A notícia acabou ganhando grande destaque na imprensa, por ter sido o último negreiro apreendido na costa brasileira com cativos africanos a bordo.

(CARVALHO, M. J. M de. O desembarque nas praias: o funcionamento do tráfico de escravos depois de 1831. Revista de História, São Paulo, n° 167, julho/dezembro 2012, pp. 223-260).

Em relação ao tráfico de escravos em Pernambuco, assinale a alternativa CORRETA.

A) Embora a lei antitráfico tenha entrado em vigor desde 1831, as autoridades imperiais nada fizeram para deter o comércio ilegal nos portos das capitais provinciais. Exemplo disso foi o porto do Recife, que não teve seu cotidiano alterado, no que tange ao comércio atlântico de escravos.

B) Embora conhecida como “Lei para inglês ver”, a Lei de 1831 contribuiu bastante para frear o ímpeto dos traficantes. Exemplo disso é que, em finais da década de 1830 e durante a década de 1840, o número de escravos que ingressaram na Província de Pernambuco diminuiu de forma vertiginosa.

C) O desembarque de cativos africanos nos portos naturais das diversas praias que ficavam na Província de Pernambuco, mas distante o suficiente para dificultar a vistoria das autoridades imperiais, foi uma estratégia desenvolvida pelos atores que participavam do contrabando de africanos, para continuar fornecendo cativos para a capitania.

D) Embora muito alarmado pela imprensa provincial e nacional, o “Desembarque de Sirinhaém” pode ser considerado uma exceção, pois a forte fiscalização da coroa impedia que fatos como este fossem corriqueiros.

E) Por ser, à época do “Desembarque de Sirinhaém”, uma província com forte tendência abolicionista, Pernambuco quase não recebia mais escravos. Além disso, os políticos e as elites latifundiárias estavam mais interessados em fomentar a vinda de mão de obra livre do exterior, principalmente a dos chineses.     

Respostas: 41 – D, 42 – C.

Alexandre L’Omi L’Odò
Historiador e mestrando em Ciências da Religião
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Alexandre L'Omi L'Odò deixa um recado para o Brasil no Palácio do Planalto

Print da postagem do Palácio do Planalto focando Alexandre L'Omi L'Odò em seu encontro com a Presidenta Dilma.

Alexandre L'Omi L'Odò deixa um recado para o Brasil no Palácio do Planalto

Só hoje pude ver este vídeo gravado comigo logo após eu ter feito uma limpeza espiritual dentro dos fundamentos da Jurema Sagrada na nossa presidenta Dilma Rousseff , que me recebeu com muito afeto e carinho, no ato da Reforma Agrária no dia 1° de Abril de 2016.

Fico feliz de poder deixar esta mensagem de paz e de apoio à democracia para todo Brasil. Também me sinto honrado de ter podido colaborar na difícil estrada da presidenta com mais uma boa energia, perante tantas, emanadas por pessoas de bom coração, para lhe fortalecer, dar saúde e força para enfrentar todo este processo do golpe firme e forte. Tenho fé na democracia e com certeza iremos derrotar os golpistas com a verdade e a democracia!


Link da postagem do @blogplanalto e @DilmaBr: https://twitter.com/blogplanalto/status/715941602540138496 

Veja o vídeo aqui: 


Obrigado Reis Malunguinho e minha grandiosa mãe Oxum por mais este momento de fortalecimento de nossas tradições. Obrigado por me escolherem para fazer parte disso.Me mantenho mais que fortalecido na luta, não desistiremos do Brasil. Salve a fumaça!

#DILMAFICA!
#AMODEMOCRACIA!
#MALUNGUINHO!
#JUREMASAGRADANOPALÁCIODOPLANALTO!
#ALEXANDRELOMILODO!

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho 
alexandrelomilodo@gmail.com 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Acorda Povo de Peixinhos 2016 celebra 30 anos de resistência na fé em Xangô e São João


Acorda Povo de Peixinhos 2016
Celebra 30 anos de resistência na fé em Xangô e São João


Demorei 28 anos esperando receber esta bandeira, e por esta tradição farei o melhor! Vamos celebrar os 30 anos do Acorda Povo de Peixinhos!

A Casa das Matas do Reis Malunguinho, meu terreiro de Jurema (em seu endereço provisório) tem o prazer de convidar todas e todos para a levada da Bandeira de São João por mim recebida ano passado pelo GCASC - Grupo Comunidade Assumindo Suas Crianças - detentor desta tradição. 

Dia 22 de Junho de 2016, o Bairro de Peixinhos mais uma vez vivenciará e celebrará esta linda celebração que é levada com muita garra e seriedade há 30 anos (comemorados em 2016) pelo GCASC. Sabemos que esta tradição tem mais de 50 anos no bairro, e que há 29 anos o Grupo se responsabilizou em manter vivo este patrimônio imaterial, afinal, se percebia na época (há 30 anos) que esta procissão junina estava se extinguindo. Este ato, nos garantiu hoje vermos viva uma das mais lindas procissões sincréticas e híbridas do Brasil.

Nos últimos anos vimos na madrugada do dia 22 para o dia 23/06 uma multidão de aproximadamente mil pessoas acompanhando esta Bandeira. Isso é muito forte e demonstra o quanto as pessoas envolvidas se dedicam para agregar o máximo possível de membros da comunidade para manter viva nossa cultura. Isso me emociona muito.

Dia 22 de junho, às 00h a Bandeira de São João com toda sua orquestra de tambores tocando coco, sairá pelas ruas do bairro a partir da Rua da Harmonia, n°27 (nosso terreiro/casa), para ser entregue na Rua do Cajueiro. Faremos uma celebração à Xangô antes da meia noite com os ilús sagrados da tradição nagô, tocando e invocando o Orixá do fogo e da justiça.

A partir das 18h, teremos shows de coco e forró pé de serra animando a comunidade antes da grande procissão. Cheguem cedo, vamos aproveitar a festa. Contaremos com os coquistas do bairro que cantarão fazendo a tradicional roda de coco de Peixinhos.

Teremos fogueira, comidas típicas e muita alegria para amanhecer o dia com toda fé no nosso senhor Xangô, Malunguinho e São João Batista.

Estão todas e todos convidados. Venham celebrar comigo este momento histórico na minha vida. Axé e salve a fumaça!

Estou muito agradecido pelo reconhecimento da comunidade. Isso nos fortalece!

Quem quiser saber o que é o Acorda Povo através de dados históricos, visite: 


Serviço:

Acorda Povo de Peixinhos 2016
Saída da Bandeira - 22 de Junho às 00h
Shows e roda de coco à partir das 18h
Local: Casa das Matas do Reis Malunguinho - Rua da Harmonia, n°27
Grátis e na rua, é um evento da comunidade!


Alexandre L'Omi L'Odò
Casa das Matas do Reis Malunguinho 
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com